Sempre me perguntavam: “como eu conseguia ter tantos projetos ativos ao mesmo tempo. A minha resposta evasiva sempre era: o Café. É combustível para meu corpo e alma.”
Apesar de não responder a pergunta, a resposta trazia uma verdade. Eu sou um cara que sempre amou café e sempre fez o uso dessa substância em níveis elevados. E para você ter uma ideia do quero dizer por “elevados”, quando estava na minha graduação, eu precisava tomar uma xícara de café antes de dormir para ter um bom sono. Caso contrário: insônia, pesadelos e tudo mais.
O tempo passou e eu segui essa minha prática. Claro que quando a idade veio, em algum momento, eu precisei parar de tomar café antes de dormir. A cafeína começou a fazer o famigerado efeito de evitar que eu dormisse.
Entretanto, nada fez com que eu parasse de tomar café. Continuava tomando em níveis elevados, principalmente durante o trabalho.
O tempo passou mais ainda e discussões sobre meu hábito de tomar café não fizeram mais parte do meu dia-a-dia. Mas o que começou a se tornar assunto era, que de tempos em tempos, eu tinha uma crise muito forte durante o sono. Daquelas que qualquer barulho me acordava, e depois disso eu não dormia mais.
Como essas coisas aconteciam aos poucos, eu não dei tanta atenção. Tentei trazer esse assunto em minhas sessões no psicólogo, mas nunca se tornou prioridade nas investigações. Entretanto, a hora de pagar a conta não demorou muito pra chegar.
Em 2019, eu e minha esposa tentamos ir morar na Hungria. O plano era ficar lá no mínimo dois anos, e se nos adaptássemos, talvez ficássemos lá…
Além dos assuntos relacionados à imigração, a pandemia de COVID-19 logo chegou e nossa vida virou uma prisão dentro de casa em um país estranho, com poucos amigos e conhecidos. Logo a amiga insônia começou a me visitar com mais frequência. Houve um ponto que passei três dias sem pregar o olho. Daí em diante, até a ansiedade (coisa que eu não costumava ter) começou a correr atrás de mim com uma periodicidade muito alta.
Não dá pra negar que minha vida tenha se tornado um caos. Minha vida profissional e pessoal começaram a ficar conturbadas, e no auge da aflição, o trabalho da minha esposa chamou ela de volta, e na derradeira de escolher entre abandonar tudo ou voltar para o Brasil, não pensamos duas vezes antes de começar a procurar por passagens para regressar.
O medo de não conseguir voltar era alto, dada a situação de alguns aeroportos pelo mundo. Mas com bastante pesquisa e preparo, fizemos nossa volta com uma certa facilidade, apesar de pagar muito mais do que normalmente se paga em uma viagem dessas.
O retorno para a pátria — apesar da situação daqui — foi tranquilizadora. Mas a ansiedade e a falta de sono não me abandonaram. Agora parecia que a insônia era minha parceira e eu teria que me acostumar com isso.
Eu havia praticamente deixado minha saúde na Europa. Estava gordo, com sono, cansado e sem vontade de fazer nada. Consegui manter meu Blog, dar início ao meu PodCast e lançar o meu livro, processo que já estava arrastando por meses. Então, mesmo com a pandemia, decidimos enfrentar uma academia de Crossfit — sim, crossfiteiro — para ganhar um pouco de disposição física.
Já tive cenários anteriores onde o exercício físico me ajudou com o sono. Dessa vez, ajudou, mas não tanto quanto eu esperava. Então apelamos para medicina popular. Comecei a fazer chás e tomar remédios leves, como a valeriana.
Ainda não satisfeito com o ritmo de emagrecimento após começar a ir na academia — que era de zero gramas por semana — decidi também cuidar da alimentação. Com ajuda de uma nutricionista, comecei um projeto para recuperar a minha saúde. Ao menos no que tange a alimentação, que já deve ser um monte.
Em uma certa reunião, acabei por reclamar do sono. Não havia falado isso antes para a nutricionista, pois em minha mente ela não estava ali para me ajudar com isso. Mas quando comentei, ela me sugeriu que começasse a tomar “café descafeinado”.
Curioso como a vida dá dicas para nós, de tempos em tempos, e muitas vezes ignoramos. Lembro de um dia em meu trabalho, enquanto uma colega minha, que sofria de fortes enxaquecas, estava fazendo um café diferenciado na cantina da empresa. Quando perguntei o motivo, ela respondeu que o café era sem cafeína e que tomar aquele café ajudava a não ter ataques de dores de cabeça.
E comigo, começar a tomar café descafeinado foi algo que mudou minha vida. No primeiro dia, eu fiquei muito cansado e sem disposição, mas quando caí na cama, dormi feito um anjo.
Acreditei que poderia ser placebo, mas nos dias que vieram meu sono estava perfeito.
Eu sentia sono todos os dias o dia todo. Mas estava feliz, preferia morrer de sono do que não dormir. E depois de um mês sem cafeína, eu já me sentia bem. Dormia bem, a ansiedade começou a me visitar menos e comecei a sentir muita disposição no meu dia-a-dia.
Lembro que um dia, enquanto nos preparamos para jogar RPG — de modo online, para evitar aglomero — eu preparei um café normal para mim. Quando dei o primeiro gole, parecia que tinha tomado a poção mágica do Obelix. O coração batia tão forte que conseguia ouvir o meu próprio peito. Certamente foi difícil realizar uma tarefa intelectual com aquele “rush”!
O tempo passou mais ainda, e hoje, até tomo café cafeinado sem problemas. Não tenho mais palpitações e não incomoda meu sono. Claro, uma xícara por semana é meu limite.
E hoje sou uma pessoa “deboas”!
E principalmente, o que me incentivou a escrever esse artigo, é um intuito de compartilhar essa história, que me mostrou um lado vil do café, não só reforçado pela minha experiência, mas também por de amigos que estiveram em situações semelhantes.
Então, se você está tendo problemas de ansiedade, depressão e qualquer coisa que esteja atrapalhando sua qualidade de vida, considere o café descafeinado. Ele é tão bom quanto o normal, mas sem a droga. Ele é mais caro, claro, mas você pode comprar um pacote pequeno para testar.
Qualidade de vida é tudo!
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