No ano de 1990, em uma sala secreta em algum lugar da América Latina, diversos líderes de esquerda se reuniram tentando unificar seus objetivos e impedir o avanço do neoliberalismo e expansão da influência dos Estados Unidos pela América Latina.
— Camaradas! Precisamos dar um basta nessa escória que avança sobre nossos povos trazendo apenas a pobreza e a miséria.
— Nós não “tenemos” fome e miséria em nosso país — respondeu um dos líderes, que parecia rir enquanto falava. — “Que te passa?”
— Ah, você! Já foi se ajoelhar para os americanos?
— Ajoelhar, eu estou mais preocupado com o mercado!
— O mercado que se lixe!
— Que vergonha! — Gritou um terceiro que estivera em silêncio até então. — Temos um traidor entre nós…
— Silêncio, camaradas. Não quero que ninguém concorde comigo, mas me ouçam. Precisamos focar no que é importante. Sei que muitos irão pensar o contrário e acharão o avanço da ALCA vantajoso, mas peço que observem os resultados que isso trará ao nosso povo. Temos tempo, não precisamos tomar uma decisão agora. Apenas precisamos ficar unidos. A solução para este problema existe, ela apenas não é simples.
Os anos se passaram e muitos do grupo continuaram mantendo contato, já outros, desapareceram e nunca mais foram vistos. Durante esse tempo, a política na América Latina estava muito aquecida, com mudanças de poderes entre esquerda e direita, polarização, populismo, golpes, fascismo… foi apenas em 2018 que o plano secreto foi revelado durante um debate nas campanhas eleitorais brasileiras.
— José — iniciou o delator, encarando seu adversário no debate. — O senhor é um dos fundadores do Foro de São Paulo. O que você pode falar aqui para a nação, sobre o plano URSAL? União da República Socialista Latino-Americana.
— Meu estimado adversário, eu tive muito prazer em te conhecer aqui hoje, e pelo visto o amigo também não me conhece. — risadas no fundo. — Eu não sei o que é isso. Não fui fundador do Foro de São Paulo. E acho que está respondido.
— Sabe sim! — insistiu o delator, agora falando alto, como um político ao púlpito. — Estamos falando aqui de um plano, que se chama Nova Ordem Mundial! União de toda a América Latina, tirando todas as fronteiras e formando uma única nação! Pátria grande! Poucos ouviram falar disso e vai ser pouco divulgado. Eles sabem do que nós estamos falando. Quero deixar bem claro que no nosso governo, o comunismo não vai ter vez.
— A democracia é uma delícia, é uma beleza — respondeu José. — Eu dei a vida inteira por ela e continuarei dando. Mas ela tem certos custos…
A plateia riu, o debate terminou, mas só quando José chegou em casa que ele esfriou a cabeça e realizou que o plano havia se comprometido. Agora era a hora. Ele precisava se reunir novamente com seus colegas e fazer alguma coisa.
— Camaradas — disse José, agora em seu covil junto de seus amigos revolucionários. — Chegou a hora! Nosso plano foi revelado e descoberto. Não podemos mais perder tempo. Não podemos esperar cem por cento de nossos recursos. Precisamos iniciar agora.
— Mas como? — retrucou um dos conspiradores. — Os soldados não estão prontos.
— Não podemos esperar mais! Terá que ser assim mesmo! Essa é a hora, camaradas! É a hora da grande URSAL reinar! É hora da revolução!
Naquele dia, Coronel Siqueira, patriota, aposentado, antigo soldado de guerra brasileiro — com muita experiência em pintar paralelepípedos pelas ruas do nosso país — vestiu sua camiseta da seleção brasileira e foi gastar seu precioso tempo andando pelas ruas de São Paulo. Era essa sua vida agora de aposentado. Andar pelas ruas, comprar uma raspadinha, tomar um café com pastel frito e descansar em um banco de praça, enquanto dava pipoca para os pombos.
Mas como todo bom soldado, enquanto alimentava os pombos na Praça da República, Siqueira ouviu longe o som das engrenagens e motores de tanques de guerra se aproximando. Assustando, mas ainda valente, o coronel aposentado se esgueirou pela praça, se escondendo atrás de árvores e arbustos. Quando teve uma boa visualização da Avenida Ipiranga, um batalhão de tanques de guerra andava pela rua exibindo as bandeiras vermelhas com uma única palavra: URSAL.
Entretanto, eles não eram os tanques que Siqueira estava acostumado a lavar e polir no quartel, esses eram maiores e os canhões eram grossos o suficiente para colocar um boi lá dentro. Logo imaginou o estrago que aquelas coisas eram capazes de fazer. Os tanques pararam na frente da praça, os canhões levantaram apontando um para cada lado, e dispararam.
Siqueira pensou em correr no sentido oposto, se adentrando à praça, mas logo percebeu que diversos canhões dispararam por toda São Paulo e por um instante o céu ficou vermelho. Foi só então que o coronel percebeu que não se tratava de um projétil ou bomba, mas sim de soldados! Os canhões estavam atirando soldados armados com paraquedas. Agora por toda São Paulo, havia uma tempestade, e dessa vez não era água, soldados da URSAL estavam caindo em todos os lugares.
Siqueira pensou primeiro em sua esposa. Precisava chegar em casa a salvo para ajudá-la. Correu pelas ruas de São Paulo tentando não ser visto, mas suas habilidades não estavam tão afiadas quanto nos tempos do exército. Logo que virou uma esquina deu de frente com um dos soldados.
Por um instante, o Coronel perdeu o ar. Seu corpo congelou. O soldado era gigante. Ele parecia ter uns três metros de altura. Vestia roupas vermelhas e usava uma metralhadora AK-47 pendurada em seu pescoço por uma bandoleira. Seu rosto era duro como pedra e cultivava um grande bigode. Em sua cabeça vestia uma grande toca com o símbolo da URSAL estampado na parte da frente. Com aquela estética russa, e parafraseando Luiz Gonzaga, Siqueira se sentiu por instante em Moscou, dançando um pagode russo na boate “Cossacou”.
— E vai cossaco!
Siqueira virou para o lado e saiu correndo se afastando do soldado que o perseguia. Entretanto, o soldado era muito mais rápido. Mas o coronel tinha um histórico de atleta, se precisasse, lutaria com ele até a morte, protegendo sua pátria.
Quando o soldado o alcançou, ele avançou dando uma rasteira. Siqueira saltou por cima da perna do soldado e caiu do outro lado, os dois ficaram lado a lado em posição de pistol, que os crossfiteiros tanto adoram. O soldado trocou as pernas e deu uma nova rasteira e Siqueira saltou mais uma vez, caindo do outro lado fazendo pistol agora com a outra perna. Naquele vai e não vai, parecia até um frevo, naquele cai e não cai.
Siqueira levantou sentindo as costas estalarem. Ignorou a dor e tentou correr, mas agora estava hiperventilando e não conseguiu se mover com facilidade. Sentiu apenas a mão do soldado lhe pegar por trás e o levantou usando a força de apenas um braço.
— Por favor! Não me mate! — gritou Siqueira.
O soldado o ignorou e com as duas mãos pegou em sua camiseta da seleção brasileira e a rasgou com um puxão, deixando o coronel desnudo da cintura para cima.
E então o soldado gritou:
— Agora sua bandeira será VERMELHA!
— É isso que eles farão com o Brasil — falou uma senhora, sentada em uma sala que cheirava a carne de galinha com polenta. Ao seu lado, em um sofá, um jovem coçava a cabeça e contorcia os lábios.
— Tia — falou o rapaz. — Quem te contou essa história ridícula?
— Ah querido, eu li no Zap Zap.
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Ano 856 DAE (Depois da Aurora Espacial).
Logo após herdar uma nave espacial de seu falecido marido, a Victory S.A, em nome da Sociedade Aurora, Shakir Adur’hal parte para sua primeira missão nas fronteiras da civilização.
Tímida e com dificuldades de de se comunicar, Shakir tem uma vida difícil ao tentar manter o controle e a moral da tripulação da sua nave, que é uma das mais importantes e bem equipada do universo. Ao seu favor, ela conta com a ajuda do primeiro tenente, veterano de guerra e velho companheiro de seu marido.
Juntos partem com a missão de desmantelar uma rebelião em um planeta distante do centro da civilização, onde Shakir não só enfrentará mentiras e a lábia dos Presidentes locais, como também a traição e deslealdade de seus próprios Soldados.
Estará ela disposta sair da zona de conforto e quebrar as paredes de suas dificuldades e se tornar a verdadeira capitã da Victory S.A?